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sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A Verdade Ocultada, ou a Recusa de Ver




A Verdade Ocultada, ou a Recusa de Ver

É com espanto que vemos a verdade, embora pública, sendo ignorada. Mas de que verdade estamos falando? De fatos os mais evidentes sobre a crise atual da Tradição em geral e da Fraternidade em particular, e que estão ao alcance de todos os que os querem conhecer. Verdade desconhecida, ocultada ou simplesmente não procurada; em todos os casos ignorada, para não dizer desprezada.
Alguns afirmam, como Dom Lourenço Fleichman que a resistência apresenta uma “argumentação vazia de fundamentos, baseada em falsas informações” (cf. “Sobre a Sagração Episcopal”).
Se for preciso reiterar o que já foi dito e pregar a tempo e a contratempo, não nos cansemos de fazê-lo, já que a isto nos exorta São Paulo. Se for preciso reproduzir os argumentos e relembrar os fatos, não nos cansemos de repeti-los e relembrá-los. Façamos mais uma vez o diagnóstico da doença que corrói a Tradição e ameaça a todos de morte. Este mal é o Liberalismo católico, pestilência dos tempos modernos, contradição encarnada na pessoa dos que o abraçam. Todos nós, que no mais das vezes nos consideramos imunes a este contágio universal, estamos susceptíveis a sermos vítimas deste mal.
E por isso é mister defender a obra, o pensamento, a linha intransigentemente católica de Dom Lefebvre, que não é outra senão a de São Pio X e a de todo o Magistério da Igreja desde sua fundação até a apostasia desencadeada pelo Concílio Vaticano II.
Mas entremos antes nos detalhes; aqueles detalhes sem os quais somos incapacitados de lograr qualquer diagnóstico real do desastre do qual somos testemunhas. Comecemos, pois, pelo movimento conhecido como GREC (Grupo para Reflexão Entre Católicos), e prossigamos até o dia de hoje numa brevíssima resenha de alguns fatos marcantes que nos apontarão a causa final que os motiva e explica.
Em 1995, pouco antes de falecer, o antigo embaixador da França no Vaticano, Gilbert Pérol, redigiu um artigo de “bons ofícios” com o intento de promover uma aproximação amistosa entre a Fraternidade e a Igreja oficial. A este projeto deu sequência sua esposa, a Sra. Huguette Pérol, e então uma primeira plataforma de trabalho foi constituída em 1998.
Pouco tempo depois este grupo tomou o nome já referido, GREC, e reuniu membros da Fraternidade São Pio X e do clero progressista. Com o passar dos anos este grupo atraiu a atenção do episcopado francês, não menos que a de Roma. O objetivo do GREC, como explica um de seus fundadores, o Pe. Michel Lelong, “é a necessária reconciliação entre a Tradição e Roma” 1. Objetivo equívoco, pois como diz Dom Lefebvre: “Roma perdeu a fé... Roma está na apostasia” (cf. Conferência aos padres em Ecône por ocasião do retiro sacerdotal, em 1º de setembro de 1987). Mas para o GREC estas palavras de Dom Lefebvre não merecem atenção. São palavras ditas num “momento de angústia”, como diz um dos defensores da linha de Dom Fellay. Os integrantes do GREC creem ver os acontecimentos desde um ponto mais elevado, com mais serenidade, almejando assim uma “impossível reconciliação”, como diz muito bem o Pe. Rioult, reconciliação entre duas realidades opostas: entre a Igreja verdadeira, a Roma eterna, e a Igreja oficial, a Roma modernista. Na verdade aí está todo o drama por que está passando a Fraternidade, pois Menzingen não cessou, desde então, de procurar esta reconciliação preconizada pelo GREC, fazendo uso de sua autoridade para fazer cessar as críticas à Santa Sé, ou seja, aos modernistas que a ocupam2. Está aí a razão de Dom Fellay ter pedido a Dom Williamson de cessar os seus “Comentários Eleison” e de não ter feito fortes críticas à última reunião ecumênica de Assis.
Lembremo-nos, ainda que sumariamente, de outros fatos:
  • Resposta de 14 de abril de 2012, por Dom Fellay, aos três outros bispos da Fraternidade, na qual ele diz aos seus irmãos de episcopado que lhes “falta realismo e espírito sobrenatural”;
  • Declaração doutrinal de 15 de abril de 2012. Esta declaração levantou uma reação tal, que Dom Fellay se viu impelido a retirá-la. Mas dela não se retratou até o dia de hoje. A Fraternidade não estava e não está todavia “madura” para aceitá-la.
  • A 11 de maio de 2012, Dom Fellay dá uma entrevista ao canal de televisão americano CNS (Catholic News Service), na qual ele minimiza a gravidade do documento conciliar “Dignitatis Humanae”.
  • Em julho de 2012 se reúne o Capítulo Geral da Fraternidade sem a presença de Dom Williamson, proibido de aí comparecer. O resultado deste capítulo foi o abandono da decisão do Capítulo Geral anterior (2006), o qual estabelecia que não se levaria a cabo nenhum acordo prático com Roma antes de um prévio “acordo doutrinal”. Em outros termos, antes da conversão de Roma.
  • Pouco depois é notificada a expulsão de Dom Williamson da Fraternidade, expulsão que este considera nula; e Dom Williamson convida Dom Fellay a resignar o seu cargo a fim de que não se destrua a obra de Dom Lefebvre.
  • Em 13 de junho de 2012 Dom Tissier de Mallerais se manifesta em entrevista ao jornal “Rivarol” contra a política de acordo, sem, entretanto, citar a pessoa de Dom Fellay. Note-se que Dom Tissier foi transferido de Ecône para um priorado nos Estados Unidos. Os seminaristas perderam assim o contato com o mais antigo colaborador de Dom Lefebvre.
Nos meses seguintes, declarações diversas, públicas e privadas, expressaram e reforçaram a política pragmática da Fraternidade com relação a Roma. “Reconhecimento unilateral” é a fórmula apta a obter a aceitação dos membros da Fraternidade. Mas esta é a mesma solução aceita por Dom Gérard (Barroux – França) em 1988, assim como por Campos em 2002. Um reconhecimento canônico tem sido suficiente, seja ele unilateral ou não, para criar uma dependência em relação às autoridades modernistas e desta feita lhes permitir que aniquilem toda a Tradição. Não são os inferiores que fazem os superiores, mas sim os superiores que fazem os inferiores, como observava Dom Lefebvre. É uma simples questão de bom senso. Mas o bom senso está desaparecendo da superfície da terra.
Convém lembrar igualmente os processos iníquos dos quais foram vítimas os padres Pinaud e Salenave, processos descritos e comentados pelo Pe. François Pivert no livro “Quel droit pour la Tradition catholique?”.
As comunidades religiosas que não aprovavam a política de Menzingen já haviam sido objeto de medidas diversas de pressão e vexação. A lista é longa. Recordemos o adiamento da ordenação dos diáconos dominicanos e capuchinhos em 2012. Os beneditinos de Bellaigue também foram ameaçados de ter a ordenação de seus candidatos delongada. Ora, isso se explica se considerarmos que os superiores destas três casas religiosas haviam estado em Menzingen para manifestar a Dom Fellay o seu desacordo.
No entanto, aqueles que apoiam Dom Fellay dizem que isso são águas passadas: o Capítulo Geral de 2012 deu uma solução satisfatória à questão; o que é falso. Tanto o Pe. Pflüger, primeiro assistente de Dom Fellay, como o Pe. Alain Nely, segundo assistente, retomaram o assunto, seja em conversas privadas, seja em retiros, seja ainda em entrevistas públicas.
Não se pode de modo algum dizer que tudo quanto era problemático está sanado na Fraternidade. Se isto fosse verdade, Dom Williamson teria que ser reabilitado, honrado e escutado, pois que foi sua iniciativa de redigir a carta ao Conselho Geral, assinada também por Dom Tissier e Dom de Galarreta, que salvou a Fraternidade em 2012 de um acordo com Roma. Três bispos contra os acordos era demais para Roma. Era melhor esperar por tempos mais propícios.
Para Dom Lefebvre este momento oportuno expressar-se-ia pela conversão de Roma e pela aceitação das doutrinas contidas nos documentos pontifícios Quanta Cura, Syllabus, Pascendi, Quas Primas, etc. Mas para Dom Fellay, os tempos propícios já chegaram e trazem consigo a diminuição do espírito de combate da parte da Fraternidade, ou seja, o alinhamento (“ralliement”, em francês) que culminou com sua declaração de 15 de abril de 2012 e que continua mesmo sem a assinatura de um acordo.
A conclusão de tudo isso é algo de espantoso e trágico. Estes fatos são públicos, na sua maioria. Por que não há uma maior reação à política de Dom Fellay? Ao que parece é porque o liberalismo e a apostasia já fazem sua obra dentro da própria Tradição. Dom Fellay, ajudado por muitos padres, criou um estado de desorientação tal que muitos fiéis já não são capazes de discernir mais nada do que está acontecendo com a obra de Dom Lefebvre.
É por isso que afirmamos que a verdade sobre estes acontecimentos permanece oculta embora seja pública. Seria a ocasião de citar a famosa frase de Chesterton, que segue: “o mundo moderno é dirigido por uma força oculta que se chama publicidade”. O que importa, como diria um amigo nosso, não são os fatos, mas a versão dos fatos. Ora, a versão triunfante é que Dom Williamson e Dom Faure são desobedientes e que os superiores da Fraternidade são os verdadeiros discípulos de Dom Lefebvre. Isto é falso, como o demonstramos. Eis aí o centro do drama.
Agora é vossa hora e o poder das trevas” (Luc. XXII, 53). Talvez a Resistência tenha de sobreviver como os apóstolos e os discípulos dispersos durante o tempo da Paixão. É útil rememorar uma reflexão do grande pensador brasileiro, Gustavo Corção: “Não creio em nenhuma obra nos tempos atuais que reúna um grande número de pessoas.” Talvez a Resistência permaneça opusillus grex ao qual Nosso Senhor exortou a não temer porque foi do agrado do Pai lhes dar o reino. Que a proteção da Santíssima Virgem possa nos guardar fiéis até o fim: “Ut Fidelis inveniatur”.

Ir. Tomás de Aquino
1º de abril de 2015
1  Pour la nécéssaire réconciliation, Nouvelles Éditions Latines, 2011, p. 15.
2  Ibidem, p. 50.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Sobre a saudação angélica

Por que o Arcanjo Gabriel saudou a Virgem Maria com um "Ave"?


 Vejamos nesse sermão de Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico:


A SAUDAÇÃO ANGÉLICA

PRÓLOGO


1. — A saudação angélica é dividida em três partes: A primeira,

 composta pelo Anjo: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo,
 bendita és tu entre as mulheres. [Lc I, 28].

A segunda é obra de Isabel, mãe de João Batista, que disse: 

Bendito é o fruto do teu ventre.


A terceira parte, a Igreja acrescentou: Maria

O Anjo não disse: Ave Maria e sim, Ave, Cheia de graça. 
Mas este nome de Maria, efetivamente, se harmoniza com as palavras 
do Anjo, como veremos mais adiante.





AVE


2. — Na antiguidade, a aparição dos Anjos aos homens era um 

acontecimento de grande importância e os homens sentiam-se extremamente honrados 

em poder testemunhar sua veneração aos Anjos.


A Sagrada Escritura louva Abraão por ter dado hospitalidade aos Anjos e por tê-los reverenciado.

Mas um Anjo se inclinar diante de uma criatura humana, nunca se tinha ouvido dizer antes 


que o Anjo tivesse saudado à Santíssima Virgem, reverenciando-a e dizendo: Ave.



3. — Se na antiguidade o homem reverenciava o Anjo e o Anjo não reverenciava o homem, 


é porque o Anjo é maior que o homem e o é por três diferentes razões:


Primeiramente, o Anjo é superior ao homem por sua natureza espiritual.

Está escrito: Dos seres espirituais Deus fez seus Anjos. [Sl. CIII].


4. — O homem tem uma natureza corruptível e por isso Abraão dizia a Deus: 


[Gn XVIII, 27] Falarei a meu Senhor, eu que sou cinza e pó.


Não convém que a criatura espiritual e incorruptível renda homenagem à criatura corruptível.

Em segundo lugar, o Anjo ultrapassa o homem por sua familiaridade com Deus.

Com efeito, o Anjo pertence à família de Deus, mantendo-se a seus pés.

 Milhares de milhares de Anjos o serviam, e dez milhares de centenas de milhares

 mantinham-se em sua presença, está escrito em Daniel [VII, 10].


Mas o homem é quase estranho a Deus, como um exilado longe de sua face pelo pecado,


 como diz o Salmista: [LIV, 8] Fugindo, afastei-me de Deus.


Convém, pois, ao homem honrar o Anjo por causa de sua proximidade com a majestade divina 
e de sua intimidade com ela.

Em terceiro lugar, o Anjo foi elevado acima do homem, pela plenitude do esplendor da graça 
divina que possui. Os Anjos participam da própria luz divina em mais perfeita plenitude. Pode-se 
enumerar os soldados de Deus, diz Jó [XXV, 3] e haverá algum sobre quem não se levante a sua luz?
 Por isso os Anjos aparecem sempre luminosos. Mas os homens participam também desta luz, porém
 com parcimônia e como num claro-escuro.

Por conseguinte, não convinha ao Anjo inclinar-se diante do homem, até, o dia em que apareceu 
a uma criatura humana que sobrepujava os Anjos por sua plenitude de graças [cf n° 5 a 10], 
por sua familiaridade com Deus [cf. n° 10] e por sua dignidade.

Esta criatura humana foi a bem-aventurada Virgem Maria. Para reconhecer esta superioridade,
 o Anjo lhe testemunhou sua veneração por esta palavra: Ave.

Santo Tomás de Aquino, "Sermões sobre o Pai-Nosso e a Saudação Angélica", Permanência, 2003.

Reflexões sobre o Fim dos Tempos




O MISTÉRIO DA INIQUIDADE E O PROPÍNQUO FIM DOS TEMPOS




«O “mistério da iniquidade”, que culminará no Anticristo e seu triunfo sobre os que crerão na mentira[1] por não haver aceitado o “mistério da sabedoria”[2], já está operando desde o princípio, em forma dissimulada de joio misturado com o trigo e de peixes maus entre a rede[3], por causa do domínio adquirido por Satanás sobre Adão, e mantendo sobre todos os seus descendentes que não fazem pleno proveito da redenção de Cristo.

É não somente o grande mistério da existência do pecado e do mal no mundo, não obstante a onipotente bondade de Deus, senão principalmente, e em especial, esse mistério da apostasia[4], que levará ao triunfo do Anticristo sobre os santos[5], à falta de fé na terra[6], e, em uma palavra, à aparente vitória do diabo e aparente derrota do Redentor até que Ele venha a triunfar gloriosamente nos mistérios mais adiante assinalados para o fim.

As armas do Anticristo são falsas ideologias e doutrinas[7] que Satanás, “o príncipe deste mundo”, introduz desde agora sob etiquetas de cultura, progresso e ainda de virtudes humanas que matam a fé, e graças aos meios que a técnica moderna lhe dá para monopolizar a opinião pública. Um autor americano recente vê o mistério da iniquidade no “conformismo”, ou seja, na acomodação dos cristãos ao mundo, na infiltração do mundo nas fileiras dos discípulos de Cristo (Hanley Furley, The Mistery of Iniquity).»


Monsenhor Johannes Straubinger, comentário ao II Tessalonicenses.






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[1] Gl II, 11: “Para que sejam condenados todos os que não deram crédito à verdade, mas se comprazeram na iniquidade.
[2] I Cor II, 7: “Mas pregamos a sabedoria de Deus no mistério, que está encoberta, e que Deus predestinou antes dos séculos para nossa glória.”
[3] Mt XIII, 47-50: “O reino dos céus é ainda semelhante a uma rede lançada ao mar, que colhe toda a casta de peixes. Quando está cheia, (os pescadores) tiram-na para fora, e, sentados na praia, escolhem os bons para os vasos, e deitam fora os maus. Será assim no fim dos séculos: virão os anjos, e separarão os maus do meio dos justos, e lançá-los-ão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes.”
[4] 2 Ts II, 3: “Ninguém de modo algum vos engane; porque (isto não será) sem que antes venha a apostasia (quase geral dos fiéis), e sem que tenha aparecido o homem do pecado, o filho da perdição.”
[5] Ap XIII, 7: “E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos, e vencê-los. E foi-lhe dado poder sobre toda a tribo, e povo, e língua, e nação.”
[6] Mt XXIV, 24: “Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes milagres e prodígios, de tal modo que (se fosse possível) até os escolhidos se enganariam.” Lc XVIII, 8: “Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Mas, quando vier o Filho do homem, julgais vós que encontrará fé sobre a terra?”
[7] Por exemplo, o Comunismo, o Socialismo, o Sionismo, o Americanismo, o Neo-Ecumenismo pós-Conciliar, o Materialismo, o Laicismo, entre outros.


Fonte: http://esubireiaoaltardedeus.blogspot.com.br/search/label/Fim%20dos%20Tempos

O debate entre Lutero e Eck

Tendo falecido o imperador Maximiliano, em 12 de janeiro de 1519, foi só depois da eleição do 
seu sucessor, Carlos V (out. de 1519), que o processo contra Lutero foi retomado. Nesse ínterim 
um novo acontecimento patenteara a má vontade de Lutero: a discussão de Leipzig. 
Os erros de Lutero foram-se espalhando com a repulsa de uns e a aprovação de outros.
 Em breve as próprias universidades da Alemanha veriam as suas opiniões divididas, 
efeito das dúvidas e discussões suscitadas.

O enfraquecimento da fé e o relaxamento da moral eram um terreno propício para as novidades
 e revoltas.

As universidades de Wittemberg, Ingolstad e Leipzig combinaram entre si um debate público 
para resolver a pendência. O lugar escolhido foi o castelo do conde Jorge de Sax, em Leipzig.
 Ali deviam reunir-se os representantes de cada partido. O salão de honra do castelo 
foi dividido em duas partes destinadas às duas facções, com dois púlpitos no centro, 
um em frente ao outro.





O grande teólogo John Eck, paladino invencível 
da religião católica, com a idade de 43 anos.

Ilustre sacerdote que denunciou a fraude e 

o logro das heresias. Ano de 1572. 

A discussão teve início a 27 de junho de 1519 
entre Carlostad e Eck. O enviado de Lutero 
foi vergonhosamente vencido, não podendo provar
 as suas teses, nem refutar as do seu antagonista.

Referindo-se, mais tarde, a esse fracasso, falou Lutero: 
‘Em Leipzig Carlostad recolheu vergonha em vez de honra, 
mostrando-se um miserável polemista, com espírito tapado e 
tolo.’ (H. Boeckmer: Der Junge Luther 1929, pág. 255). 
A impressão foi péssima para a pretensa reforma. Os partidários chamaram Lutero para vingar 
a desfeita e soerguer a honra comprometida da nova doutrina.

Em 4 de julho reencetou-se a polêmica, desta vez entre Lutero e Dr. Eck. Tudo convergiu logo
 para a palpitante questão: a autoridade da Igreja em matéria doutrina. Lutero havia
 opugnado as indulgências, proclamando o valor supremo da Bíblia e a inutilidade das boas
 obras, mas não tinha ainda opinião formada sobre a jurisdição da Igreja em questões de 
doutrina. Caiu em contradição, titubeou, aderindo, publicamente às condenadas doutrinas 
de Huss, rejeitando a autoridade da Igreja. O Dr. Eck refutou vitoriosamente as asserções 
heréticas, e Lutero não fez papel mais brilhante do que o seu representante vencido, Carlostad. 
Os ânimos dos sectários se exaltaram e vários começaram a gritar contra as 
asserções católicas de Eck. 

A 14 de julho encerrou-se a discussão, levando os louros do triunfo o Dr. Eck, como o próprio
 Lutero depois declarou em uma carta a Melanchton: ‘Eck tem as vantagens: ele triunfa e reina.
 Estes leipziganos não nos saudaram, nem visitaram, mas nos trataram como inimigos, enquanto
 acompanharam Eck em toda parte... para nossa vergonha... aí está todo o drama: começou
 mal e acabou pior... discutimos mal.’ (Enders: corr. II, 85, 20 de julho de 1519).

O conde Jorge de Saxe, o povo de Leipzig, a universidade e os católicos hesitantes sentiram-se
 fortalecidos em sua fé, mas Lutero, recolhendo-se sob a capa do seu amor próprio ferido, se
 tornou cada vez mais intratável e grosseiro.

Ei-lo feito definitivamente herege.

LOMBAERDE, Pe. Julio Maria deO Diabo, Lutero e o Protestantismo. 2ª Ed. Manhumirim: O Lutador, 1950.